Márcia Alcântara Holanda: “Vacina, nem morta”

A frase acima foi proferida por uma paciente que acabara de receber o diagnóstico de sua doença pulmonar, como sendo a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (Dpoc). Por ser crônica e também progressiva, não tem cura, mas tem controle. Sendo a causa principal o hábito de fumar.

A fim do controle os pacientes com Dpoc devem: parar de fumar, usar corretamente a medicação adequada, de modo contínuo, praticar atividades físicas orientadas por especialista nesse tipo de terapia, que é a Reabilitação Pulmonar e vacinar-se contra a gripe.

O uso da vacina antigripal reduz em até 80% todas as gripes que o paciente iria ter durante um ano. Por sua vez reduz também em até 80% as infecções respiratórias e até as pneumonias, nesses pacientes.

Essa e outras frases, semelhantes as da paciente, são ditas por muitos que não aderem à vacinação impetrada pelo Governo Federal. Continue lendo

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Márcia Alcântara: “Minha amiga virou um polegar”

Isto é uma ficção com base num fenômeno real: minha amiga Susana (nome fictício) é uma grande executiva que trabalha dez horas por dia. Produz muito, mas sempre arranja um tempinho para uma prosa que levamos com frequência. De uns tempos para cá, com a revolução causada pelo “WhatsApp” e outros modos eletrônicos de comunicação rápida, simbólicos e fáceis somente digitando sem sair da cadeira ou da cama, Susana disparou a comunicar-se desenfreadamente.

Mandou ver num pacote de “emoticons” – segundo ela, são milhares deles disponíveis, que servem para substituir toda sorte de ideia, de sentimentos, ações, pensamentos ou o que se imaginar, sem verbalizar nada. Há carinhas redondas para representar tudo isso. Para que escrever se hoje estou triste se existe uma carinha redonda com os cantos da boca para baixo, olhos inclinados na diagonal, também para baixo, sobrancelhas caídas e às vezes uma lágrima caindo do olho? Perguntava ela enquanto eu dizia que essas figuras eram estáticas, padronizadas, impessoais e não expressavam nosso eu real.

Tudo pode se expressar por “emoticons”, afirmava ela. Quase um ano depois dessa “febre da comunicação”, percebi que aquela imagem bonita, de rosto ovalado, expressões faciais puras, dedos finos e que Susana exibia naturalmente havia sumido da minha mente. Em vez daquela autenticidade, o que aparecia para mim era uma mão roliça de polegar boleado, apontando para cima quando ela dizia que estava tudo bem, para baixo se as coisas estivessem dando diferente do desejado e por aí ia. Esse polegar virou a cara dela!

Procurei saber a razão desse fenômeno acachapante e, depois de muito estudar e pesquisar, encontrei que: no nosso cérebro ocorre constantemente um processo de aprendizado e de memorização de fatos e coisas, que também podem mudar continuadamente de acordo com os estímulos ambientais. As conexões dos nossos neurônios podem se fortalecer e se multiplicar para estabelecer novas conexões e até novos neurônios podem surgir: é a neuroplasticidade do cérebro. Isso ocorre conforme tais estímulos. (Tracy J. Shors: Scientific American, 2009; Brain Plasticity: Neuroscience News, 2, 2017.)

Atribuo que a substituição dos textos, das palavras e das imagens reais de Susana pelos “emoticons” possa ter sido influenciado pela neuroplasticidade dos meus neurônios, de tanto ver “emoticons”, em vez de ver Susana…

Ainda bem que tudo pode ser revertido: retornamos à nossa prosa, reduzimos a comunicação por “emoticons” e às imagens. As falas e as escritas sobre Susana voltaram ao normal na minha mente – para alívio nosso.

DraMarciaDra. Márcia Alcantara Holanda
Médica pneumologista; coordenadora do Pulmocenter; membro da Academia Cearense de Medicina
Coordenadora da Comissão de Asma da SCPT
pulmocentermar@gmail.com

Fonte: O povo

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